quarta-feira, 8 de abril de 2009

A Estranha - A Estranha

O primeiro caderno deste espaço, palavras ao MAR, está cheio de certezas furiosas e deslumbres da semântica. É o caderno d'A Estranha, rebentando de quatro poemas:

Misericórdia

Não se engana nunca o sangue
nem mesmo quando escorre pela rua

e se as mãos explodem de raiva pura
melhor pescoço não há do que o teu

poupa-me a estrada
tirem-me o sono
acordem-me de novo
para um sério

pede-me de volta esse teu... nojo
que parece perguntar:
-"porquê eu?"

serei eu só quem tem pena de si?
pois então não quero
que tenham pena de mim!

numa modesta ocasião
testei o teu limite
sei agora que não tenho voz
por mais que eu grite

e se com o dedo pressionado
numa ferida eventual
sei que existem histórias
que acabam sempre mal.

Rodada Saia Cega

Calculado sentimento de recusa
inebriado só pela repulsa
dos batimentos descompassados
da própria cidade

um homem sério que seriamente nela habita
vagueia pelas correntes que ele próprio debita
forjando laços de enrodilhados
de falsa humanidade

por isso é
com certo receio que eu
recebo de braços abertos quem
é de corpo e alma prisioneiro

e quem tem dúvidas sobre isto é
vítima da própria cidade.

A Espia, a Outra e a Estranha

Todo eu
trigo
todo eu
sentido

mesmo de chuva
mesmo de chuva assim

sem pé

e é toda uma manhã
é só uma manhã
que se vai
que se esvai
que me trai.

Inversa Direcção

Põe a ferida no sal
que eles não sabem
que é tão bom cair no mal

e quem vem
na minha direcção
quem traz essa informação.

Letras: Bruno Broa e Miguel Pires para A Estranha

1 comentário:

  1. "Em todas as ruas me encontro,em tuas as ruas te perco
    Conheço tão bem o teu corpo,
    Sonhei tanto a tua figura,
    que é de olhos fechados,que ando, à tua procura..."
    M.Cesariny
    N há metáfora maior,do que a palavra de segredo senhor...
    A vossa veia, é o toque q a minha alma bebe...

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